Bitcoin e criptomoedas impulsionam saldo negativo recorde de US$ 84,4 bilhões no balanço financeiro do Brasil em 2024

Saída de dólares do país atinge US$ 15,9 bilhões, o terceiro pior resultado da história

O Brasil registrou em 2024 uma saída recorde de capital de US$ 84,4 bilhões por vias financeiras, de acordo com dados preliminares divulgados pelo Banco Central (BC). Esse número representa o pior desempenho desde que o BC começou a divulgar oficialmente esses resultados em 2008.

A fuga de capital consolidou um déficit de US$ 15,9 bilhões no fluxo cambial do país, o terceiro pior resultado da série histórica. O Bitcoin (BTC) e outras criptomoedas tiveram um papel relevante nesse saldo, sendo responsáveis por cerca de 20% das saídas de dólares por vias financeiras.

Criptomoedas e o impacto no fluxo cambial

Até outubro de 2024, transações relacionadas a criptomoedas contabilizaram um saldo líquido de US$ 14 bilhões em importações, com um déficit total de US$ 56,2 bilhões, o que equivale a 24,9% das saídas de dólares do Brasil. Essas movimentações incluem importação e exportação de ativos digitais, além de entradas e saídas de capital por meio de Investimentos Estrangeiros Diretos (IED), remessas de lucros, dividendos e financiamentos internacionais.

Dólar em alta e deterioração fiscal

A valorização do dólar, que subiu 27% em relação ao real e encerrou o ano a R$ 6,18, também contribuiu para a fuga de capitais. Mesmo com intervenções do BC, como leilões que injetaram US$ 32 bilhões no mercado, os resultados foram limitados, reduzindo as reservas internacionais do país em 9,2%, a maior queda desde 2005.

Segundo o economista-chefe da Acrefi, Nicola Tingas, a taxa de câmbio reflete as condições econômicas do país:

“A pressão relativa em relação ao dólar vem piorando por conta do cenário externo, das taxas de juros americanas, que ainda estão num patamar histórico muito alto, e da percepção conjunta de que o risco americano é melhor do que o brasileiro.”

Stablecoins e a dolarização do patrimônio

O aumento na adoção de stablecoins no Brasil, como o USDT e o USDC, oferece uma alternativa simples para a dolarização de patrimônio. Reconhecendo esse crescimento, o BC propôs em consulta pública medidas para restringir a comercialização dessas moedas digitais a prestadores de serviços de ativos virtuais (VASPs) autorizados a operar no mercado de câmbio.

Entre as propostas, destaca-se a possibilidade de proibir a transferência de stablecoins para carteiras autocustodiais, como MetaMask e Phantom, aumentando o controle sobre o mercado.

Conclusão

Combinando fatores como alta do dólar, taxas de juros americanas e fuga de capitais por vias financeiras, 2024 foi um ano desafiador para o Brasil. O papel crescente das criptomoedas e a busca por alternativas de dolarização ressaltam a necessidade de regulação eficaz e equilibrada, que promova a inovação sem comprometer a estabilidade econômica.

As ações propostas pelo BC em 2025 visam aumentar o controle sobre o mercado cripto e podem influenciar significativamente a dinâmica do fluxo cambial nos próximos anos.

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